Miguel Blog

O Tempo e a flor

Vislumbrei em sonhos um delicado vasinho de porcelana recheado de terra e uma pequena muda a brotar. Naquele frágil e alvo recipiente um garoto se colocava a regar. Primeiro, com minha plena aprovação, algumas parcas gotas umedeciam a terra. O broto sem pressa crescia ao ritmo da molúria em um germinar cativante para nós dois. Em beleza, no silêncio, a planta crescia lentamente, se revelando um singela pequena flor branca ou amarela, neste ponto, as cores se entrelaçam sutilmente, com os fios de cabelo do garoto. Encantado pela delicada flor, por um momento a perfeição parecia suspensa no ar até ser quebrada pela faina do rapaz que permanecia a embeber a fina flor em um manancial de água. Então a pujança do tempo se abateu sobre a flor na medida em que a água era despejada, a flor ia envelhecendo em um ritmo acelerado. A flor se enrugou, turvou-se, e despedaçou-se até remanescer pouco mais do que seus restos jogados a terra. A cada segundo, meu coração se tornava mais pávido, incólume diante o que testemunhava mas incapaz de interromper tais ações. O torrencial do garoto continuava sobre o vasinho de porcelana; e sobre os restos da finada flor surgirá um novo broto. O novo broto então sofria do mesmo destino do anterior, mas dessa vez crescia velozmente junto da corrente d’água que o castigava. Em momento algum, a criança revelava emoção, numa calma particular, como parte de uma rotina diária. Ela persistia em regar, e a planta definhava, Tudo se repetia, em um ciclo veloz e triste.

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