Sonhar e Esquecer
Sonhar e esquecer, algo tão natural, mas que me causa uma tristeza profunda. Sinto-me como se uma parte vital de mim estivesse ausente, uma memória - ainda que falsa - que se evaporou como água no deserto. É uma sensação ainda mais estranha quando os sentimentos de um sonho persistem, mesmo sem a lembrança. As emoções de um sonho triste podem permanecer comigo por horas, apesar de não conseguir recordar a causa da minha tristeza. E o mesmo ocorre com sonhos nostálgicos, estranhos ou agradáveis. Como é curioso que, mesmo sem uma imagem vívida em minha mente, essas sensações possam ter um efeito tão duradouro sobre meu espírito
É notável como a única lembrança que resta de um sonho é a consciência de que ele foi esquecido. A lembrança da ausência de memória é a única prova tangível de que algo aconteceu. Mesmo quando não nos recordamos de um sonho, temos a consciência de que ele aconteceu. Sabemos que algo escapou de nossa memória, e essa falta de lembrança é uma afirmação silenciosa da própria existência do sonho. Se não estivéssemos cientes do esquecimento, nunca saberíamos que algo foi perdido, e o sonho seria como se nunca tivesse acontecido.
De maneira semelhante, o esquecimento pode, de certa forma, confirmar a existência de coisas que foram perdidas. Quando nos esquecemos de professores da pré-escola, por exemplo, essa lacuna em nossa memória reafirma a sua existência. Como poderíamos esquecer algo que nunca existiu? Da mesma forma, quando esquecemos o rosto das pessoas que vimos no ônibus há uma semana, ainda sabemos que elas estavam lá, que existiram em algum momento. É como se o vazio deixado pelo esquecimento paradoxalmente marcasse a presença do que uma vez foi. Saibamos que de alguma forma aquele espaço vazio em algum momento já foi ocupado.
É interessante perceber como o ato de lembrar que algo foi esquecido se torna o limiar da existência. Quantas pessoas conhecemos e esquecemos de tal forma que não apenas perdemos suas memórias, mas também esquecemos de tê-las perdido? Para todos os efeitos, essas pessoas nunca existiram em nossas vidas. Não vemos o vazio que deixaram, como se a sua forma nunca tivesse existido. É como se o esquecimento absoluto apagasse completamente a existência de algo, tornando-o irrelevante, impalpável e inexistente.
Talvez o conceito que atribuímos ao ato de esquecer não seja tão preciso quanto pensamos. Quando afirmamos que não lembramos de algo, isso não necessariamente significa que perdemos a informação, mas sim que não conseguimos acessá-la naquele momento. O esquecer não é uma perda definitiva, mas sim um deixar para trás.