Infocracia

Byung-Chul Han aponta o abandono do regime disciplinar foucaultiano baseado no controle do corpo e da energia em prol de um regime de controle das informações. Enquanto o antigo  regime disciplinar era intrusivo, rígido, de cerceamento e controle, o atual, o da informação, é aberto, transparente, manipulativo e psicopolítico. O objetivo do regime disciplinar era produzir corpos dóceis e obedientes através de mecanismos de vigilância, punição e recompensa. Aqui se vê o intuito de instituições sociais, como o Estado, a escola e a família. No regime de informação, o controle é exercido através dos dados obtidos pela comunicação vigiada. O regime então tenta exercer controle através da liberdade, através dela somos  livres para produzir e a partir desse processo de produção, ou reprodução da vida,  somos analisados através de mecanismos de vigilância algorítmicos. A mídia digital dá fim a massa, ao contrário, agora todos tem um perfil. O capitalismo da informação então nos conduz, não nos vigiando e punindo mas nos motivando e otimizando. O Ad sob medida, as bolhas e os buracos de coelho em que caímos, uma timeline arquitetada para nos prender, os influencers , os followers seus discípulos. A disciplina é internalizada, autocontrole para se adequar às expectativas, manipulação das emoções e dos desejos. Assim somos então moldados por pressões internas alimentadas pela nossa própria exposição.

O paradoxo da sociedade da informação é: As pessoas estão aprisionadas nas informações. Afivelam elas mesmas os grilhões ao se comunicarem e ao produzirem informações. O presidio digital é transparente

Desse processo de digitalização e do regime de informação, surge o conceito de big data, no qual “o discurso é substituido pelos dados” e “o big data engloba e abraça a população”. A inteligência artificial, por meio do big data, calcula a vontade geral da sociedade, dando origem a uma “racionalidade digital” que substitui a formação política, configurando uma “infocracia” como uma pós-democracia digital onde “Analises de dados por meio de inteligencia artifical substituem a esfera publica discursiva”. Essa infocracia percebe o mundo como uma máquina a ser administrada, com suas variáveis e funções, em um corporativismo mecânico e funcional, onde “política e governo são substituídos por planejamento, controle e condicionamento”. O infocracia é o sonho dataísta que acredita na capacidade divina do big data em otimizar o funcionamento da sociedade, “dataístas tem em mente uma sociedade que se sustenta completamente sem politica […] Da perspectiva dataísta, a democracia partidária não existira no futuro próximo” eles vão mais longe ainda e afirmam que “as pessoas não se distinguem fundamentalmente de abelhas e dos macacos”. Na era digital o humano passou a ser apenas um conjunto de dados a ser analisado e manipulado. O paradigma dataísta infocrático parece não compreender a natureza histórica da realidade, que os dados não existem no éter e que o comportamento humano transcende a mera razão. Tendem a ignorar a ética da gestão, além de vislumbrar a sociedade como um corpo sólido, desconsiderando as contradições a serem enfrentadas. No fim tudo que os dataísta obtêm em uma infocracia é a isenção das responsabilidades para a maquina. Aspirando a uma total transparência e eficiência a infocracia neoliberal adota uma perspectiva simplista, enxergando a realidade como uma máquina previsível e gerenciável, acreditam erroneamente na captura total dos fenômenos sociais. A infocracia assume ares de uma utopia, uma narrativa ilusória que sugere que a governança algorítmica pode resolver todas as questões. Na realidade o que a infocracia apresenta é um modelo tecnocrático de manipulação, desumanização e e alienação digital. Portanto, devemos vislumbrar alternativas, resistir ao domínio corporativo das redes e aparatos digitais e contemplar uma era eletrônica que transcenda a lógica infocrática. É necessário repensar a relação entre tecnologia, poder e democracia. Temos que romper com a ilusão de que a eficiência algorítmica é a única via possível. Precisamos de uma abordagem mais humanizada por um equilíbrio entre a eficiência tecnológica e a preservação da autonomia, da subjetividade humana. Temos que vislumbrar uma era digital autêntica de conectividade fora da vigilância, de expressão fora dos algoritmos, por um ambiente digital que verdadeiramente sirva aos interesses e valores humanos.