A vida aqui

Neste pedaço do mundo, quase 10 mil tipos dividem o mesmo chão, histórias, sonhos e cotidiano. Nessa terra o tempo tem seu próprio compasso, e certos costumes, como participantes anacrônicos, eternizam-se no presente como sempre estiveram no passado. As criaturas deste mundinho não fazem jus a decorar números de casas, elas gravam em suas cabeças é nome de gente. Não se habita na famigerada Rua Cota Emerick, ou sei lá que outro nome usam, o lar é nas cercanias, na vizinhança, à frente, ou quem sabe, uma viela adiante, do recanto onde repousa uma notável figura reconhecida. Talvez o pastor, talvez o professor, talvez o camarada que a todos conheçam. De fato, por aqui o anonimato é frágil. Sempre há alguém que o conhece, ou ao menos, conhece alguém que conhece. Me acostumei a trombar com desconhecidos que já me conheciam. Sem dúvida, por aqui, ninguém é tão estranho quanto parece à primeira vista. Não é que todos se conheçam de fato, é só que não há lá muito de singular a se descobrir. As diferenças se escondem na simplicidade, e o que nos distingue são nuances que se mostram lentamente. Todas as crianças, passaram pelos bancos da mesma escola, compartilharam os ensinamentos dos mesmos mestres e pisaram nos mesmos lugares ao redor da cidade. Os mais antigos, todos eles, brotaram de origens modestas e análogas nos campos rurais. Assim se forma uma sorte de memória entrelaçada entre todos nós, como se as histórias fossem contadas por uma só voz. Cada passo, cada dia, cada desafio tecem, juntos, o pano dessa memória coletiva.